sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Um dos cientistas mais influentes da história que você pode nunca ter ouvido falar


Autorretrato de Alexander Von Humboldt

 Repare no autorretrato de Alexander Von Humboldt e olhe nos olhos de um homem que procurou ver e entender absolutamente tudo. Nesta altura de sua vida, com a idade de 45 anos, Humboldt aprendeu sozinho todos os ramos da ciência, além de ter viajado quase 10 mil kilômetros em uma jornada científica pela América do Sul. Inventou novos métodos de exibição de gráficos de informações, conquistou um recorde de escalada que perdurou por mais de 30 anos e se tornou um dos mais famosos cientistas de seu tempo, tendo ajudado a estabelecer muitas das ciências naturais modernas.


Hmboldt, nascido em Berlin, conhecia tudo sobre o mundo do seu tempo. Ele dedicou as suas últimas três décadas de vida escrevendo "Kosmos", uma espécie de almanaque sobre os aspectos científicos de todas as características da natureza. Embora não o tenha finalizado antes de sua morte em 1859, os quatro volumes escritos são umas das mais ambiciosas obras da ciência já publicadas, cobrindo uma vasta e extraordinária amplitude do conhecimento humano.

Mapa de 1823 usando as linhas isotérmicas, ligando áreas que possuem as mesmas temperaturas em média, criadas por Humboldt.

Durante sua vida, Humboldt buscou as interconexões mundiais. Hoje em dia o conhecimento pode parecer irremediavelmente fragmentado. As ciências e as humanidades falam línguas diferentes, as disciplinas científicas parecem imensuráveis e a universidade em si mais parece uma multiversidade. Em oposição a esta realidade, Humboldt representava a aspiração para se englobar a ordem; se nós olhássemos fundo o bastante, nós encontraríamos uma intrincada harmonia fundamental.

Refletindo sobre suas ambições, Humboldt escreveu:

"A força principal que me direciona é o empenho em compreender o fenômeno dos objetos físicos em sua forma geral, e representar a natureza como uma grande e belíssima unidade, movida e animada por forças internas."

De forma a entender toda a ordem natural, Humboldt precisou mergulhar em "formas especiais de estudo", sem a qual "todas as tentativas de dar uma visão grande e geral do universo seriam nada mais que uma vaga ilusão."

Manuscrito de Humboldt, datado de 1817, mostrando a distribuição espacial das plantas.

 A crença de Humboldt na unidade do cosmos teve vastas implicações no entendimento da humanidade também. Ele rejeitou o que considerava uma divisão obsoleta e perniciosa do mundo em Velho e Novo. Através de seus mapas geológicos, meteorológicos e botânicos, ele mostrou que lugares distantes da Terra poderiam ser mais parecidos do que com seus vizinhos imediatos. Foi sem surpresa que Humboldt, ao estudar a humanidade, encontrou mais coisas em comum do que diferenças. De fato, ele era um extremo defensor da liberdade de todas as pessoas, tendo em vista a cultura escravista ainda presente na época.

Quando Humboldt obteve a autorização espanhola para realizar suas explorações, ele teve motivos bem diferentes das dos europeus que visitavam as mesmas terras nunca antes descobertas. Diferente deles, ele não estava interessado em aproveitar-se dos recursos e do povo nativo daquelas terras para seu próprio bem. Ele não viu a América do Sul como um tesouro esperando ser mandado para a Europa, mas sim como uma porta para se descobrir o conhecimento esperando ser aberta. Através desta porta, ele iria revelar as relações entre áreas distantes e as espécies que as habitavam.

Humboldt e seu colega, Aimé Bonpland, ao lado do vulcão Chimborazo, no Equador.

Outro legado Humboldtiano foi o apetite insaciável pela exploração e a aventura. Na sua visão, o estudante do mundo deve sair de sua área de conforto e explorar todos os cantos possíveis do planeta. Humboldt incentivava os cientistas a fazerem do mundo o seu laboratório, empregando todo o esforço e instrumentos em disposição da ciência para observar, medir e catalogar tudo.

Humboldt transmitiu seu senso de aventura pela sua escrita. Cientistas modernos escrevem na voz passiva, nos dando a idéia de que pessoas desinteressantes e tediosas fazem o trabalho científico. Porém Humboldt nos lembra que o pesquisador é um dos principais pilares da cência. A curiosidade é tanto a centelha inicial que torna o questionamento possível quanto a fonte da excitação que o mantém. Além disso, omitir o papel do pesquisador pode abrir margens para formas de irresponsabilidades e desumanidades que Humboldt condenava.

Além do suporte financeiro dado a outros cientistas, incluindo o geólogo Louis Agassiz e o pai da química orgânica Justus VonLiebig, um dos maiores presentes de Humboldt era o poder de inspirar. Sobre ele o famoso libertador americano Simon Bolivar escreveu: "o verdadeiro descobridor da América do Sul foi o Humboldt, tendo em consideração que seu trabalho foi muito mais proveitoso para o nosso povo do que o de todos os conquistadores." E Charles Darwin, que descreveu Humboldt como "o maior explorador científico que já viveu", dizendo em suas anotações que Humboldt "fez crescer em mim uma ardente paixão em contribuir, mesmo que da forma mais humilde, com a nobre estrutura da ciência natural."

Humboldt anos antes de sua morte.
Sobre sua influencia sobre a America, Emerson escreveu: "ele é um daqueles pensamentos sobre o mundo que aparecem de tempos em tempos, como que para nos mostrar as possibilidades da mente humana." Humboldt influenciou poderosamente até mesmo a poesia de Walt Whitman, que manteve uma cópia de Kosmos na sua mesa como uma fonte de inspiração enquanto escrevia sua obra prima "Folhas de Relva". Tais exemplos dão idéia do poder de espírito de Humboldt, que até hoje inspiram gerações de pesquisadores a se aventurar no mundo e descobrir suas conexões fundamentais.


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